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Série Nomes Africanos: O Poder de um Nome - Parte I

Atualizado: há 3 dias

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Antes dos europeus invadirem o continente africano, as sociedades tradicionais africanas tinham nomes em língua materna e que tinham ligação exclusiva com a criança que o recebia. Nomes como Senzangakhona, Ntombikayise, Izintombizakithi Simlindilewafika e tantos outros nomes eram escolhidos em línguas nativas, eram nomes vernaculares. Diferente dos costumes ocidentais, não haviam contrações dos nomes e nem apelidos que derivassem dos nomes, era muito comum que as pessoas fossem chamadas por seu nome inteiro no povo Zulu, por exemplo.


Nomes europeus não carregam consigo o mesmo o poder que um nome africano carrega, principalmente porque não é possível uma pessoa preta captar a energia de um nome que não foi feito para que seu corpo e sua alma carreguem.


Se não for por um motivo espiritual, então que seja por um motivo moral e honroso adotar um nome africano ou escolher um nome africano para nossos filhos. Esse além de um ato completamente poderoso, mostra nosso respeito por nossos antepassados em termos total controle sobre nossas decisões quanto pessoas pretas da diáspora que não abrem mão de honrar a ancestralidade.


"Mas adotar um nome africano não seria um ato um tanto exagerado?"

Exagerada é sua a tendência a ser negresco, meu caro!

E se foi um branc'o que levantou a questão, conversa ainda não chegou na ala dos plagiadores!


A parte que cabe aos yurugus nessa história, é o fato de que quando eles invadiram o continente africano, uma das primeiras coisas que fizeram depois de nos sequestrar, foi mudar nossos nomes, colocar um nome não africano, como se fosse uma marca, uma etiqueta de identificação, um nome que deixasse claro que éramos propriedade deles, um nome que não lembrasse nem de longe, nem no mais remoto pensamento, nossa cultura, nossa identidade, nosso povo, etnia...sob a alegação de que os nomes africanos eram difíceis e longos demais para serem pronunciados... Mas hein?


Como não é novidade para ninguém, yurugus são pessoas preguiçosas e perversas, se eles podiam acertar o combo falta de inteligência e maldade com uma única paulada, era lá que eles iriam mirar, com requintes de alienação e negligência, um cenário perfeito para o bem estar único e exclusivo deles. Sendo assim, a preguiça, desinteresse e a vantagem em não terem que aprender nossos nomes e nem mantê-los, era uma jogada de mestre, voila "temos os pretos sob nosso controle".


"Os pretos que lutem para aprender a falar nossos nomes e nossa língua", pensaram os yurugus. Então juntemos ao branc'o além de tudo o que não presta citado anteriormente, o fator burrice, já que segundo eles mesmos, era dificil demais saber falar e escrever nossos nomes. E lá fomos nós, os que até hoje são questionados sobre a inteligência, aprender a falar nomes europeus em que nem a pronuncia ou a escrita eram/são fáceis, que o digam os Schumacher e os Schwarzenegger da vida, mas aprendemos, CLARO!... Foi mais dificil termos que aprender a pronunciar esses palavrões por termos que deixar pra trás nossa identidade em troca de algo que nos soava exótico e estranho, algo que não era nosso, algo que era degradante, violento e desmoralizante.


Assim como nossa pele e nossos cabelos, os nomes africanos têm além de tantos outros significados, o significado cultural que desempenham um papel importante na África tradicional. Nomes africanos carregam o ritmo da África. É necessário a compreensão de que o significado de um nome não se refere simplesmente a uma determinada ação, situação, evento, objeto... Ele pode desenvolver um papel crucial para aquela criança e para tudo que gira em torno dela. Nomear nossas crianças com nomes africanos, não é uma questão de exibicionismo, é a necessidade de nos reencontrarmos e trazermos de volta a identidade que nunса deveria ter sido arrancada de nós.


Todo esse rodeio é só para falarmos a vocês sobre o poder de um nome, mas não é de qualquer nome, é o poder de um nome africano.


Mesmo dentro de terreiros de matriz africana, onde já se usam nomes africanos, o processo de escolha de um nome africano dentro dos terreiros é completamente diferente, há implicações que variam de nação para nação, e há situações em que o nome só pode ser revelado depois de alguns anos, ou ainda nem podem ser revelados. Além do mais, até os nomes recebidos dentro dos terreiros de cultos africanos, são desrespeitados, então, ainda que não seja nenhuma novidade, o problema permanece sendo o mesmo. O problema não está em quem decidiu adotar um nome de ancestral, o problema está nas pessoas que de uma forma ou de outra, tentam desmerecer esses processos, sejam eles de dentro ou de fora de um terreiro, sejam escolhas antigas ou atuais, o papinho de gente embranquecida com aquele recheio de baunilha é o mesmo, é sempre um incômodo pra quem não gosta.

Próximo Post: O Poder de um Nome - Parte II

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IdentidÁfrica, desde 2010 para a comunidade africana e afro-brasileira.

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