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Série Nomes Africanos: Honre sua Ancestralidade

Atualizado: há 3 dias


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O que está por trás da palavra honra tirando as vendas deixadas pelo cristianismo? Esta série foi feita há algum tempo e que tem como foco os nomes africanos. Vou trazer a tona pontos como as cerimônias de nomeação em África, a importância do nome no continente ancestral e os processos de escolha.


Há quem acredite que adotar um nome africano na diáspora, irá atrapalhar o processo de sermos encontrados pelas "otoridades mauximas" em caso de desaparecimento. Outros acreditam que não temos esse direito por não termos nascido em um país africano, como se nossa presença no Brasil fosse uma escolha e não uma imposição que nos submetia a uma determinada condição.


Neste contexto, faremos uma introdução ao assunto, mas não vamos direto a ele, antes disso, vamos falar de uma palavra que citei muito no post "Kujichagulia", uma palavra muito mal utilizada quando se está balizado pelo cristianismo, essas coisas de branc'o...a palavra é HONRA!


"Honrar pai e mãe", essa frase martela em nossas cabeças desde moleque, mentira? Quem nunca ouviu ela sendo dita pelos pais, por algum parente próximo, algum líder religioso cristão?

Mas afinal, o que de fato essa frase realmente quer dizer?

O que essa frase em seu mais amplo significado quer dizer, sem a régua da caneta do cristianismo?

E mais, o que isso tem a ver com papo sobre adotar um nome africano?

Tem tudo a ver!


Primeiro porque quando tiramos a venda deixada pelo cristianismo sobre nossos olhos, compreendemos que o que precisa ser honrado, é a nossa ancestralidade. Porque honrar pai e mãe simplesmente desconsiderando todo o contexto histórico pelo qual passamos de deseducação dos pretos no ocidente, com total colaboração do cristianismo, honrar pai e mãe não nos levaria a lugar algum além de sermos pessoas pretas com costumes branc'os e vivendo eternamente sobre o julgo dos mesmos. O mesmo não aconteceria somente no ocidente, africanos do continente podem ser pessoas completamente embranquecidas, alguma novidade? Nenhuma!

A questão que levanto aqui é: reproduzir o comportamento branc'o, habitos, costumes, adotar nomes herdados da colonização nos fuz honrar a quem?

A nossos pais?

Aos branc'os ou nossa ancestralidade africana?


E não, eu não irei entrar no mérito de que um dos seus pais é uma pessoa branc'a, o assunto não é sobre você exclusivamente, estou falando com quem é muito bem resolvido com sua negritude e sabe seu lugar, sua identidade dentro de sua família, mesmo que ela seja birracial, como a minha é. Estou me dirigindo a quem já aprendeu a interpretar as brankices e entendeu que não existem fatos isolados quando o assunto é raça!

Quando alguém que já se reconhece como pessoa preta decide que vai entrar no processo do Sankofa e, um desses passos é a adoção de um nome africano, ela está honrando a quem? Aos branc'os ou a ancestralidade africana dela?


Honrar não se trata de reproduzir comportamentos, honrar é sobre conduzir um legado a diante e melhorá-lo, jamais regredir no processo, e quando falamos de melhorar, ela se refere a deixar melhor o que já era bom e interromper um processo mal feito, refazê-lo como num passado glorioso e enriquecê-lo.


Quando não damos continuidade a algum deslize cometido por nossos antepassados (pretos), isso sim é honrá-los, aliás, está além de honrá-los, está em honrar nossa ancestralidade africana, dá pra ter a ideia da amplitude dessa honraria e a limitação do "honrar pai e mãe" que querem nos fazer reproduzir como algo que realmente valha? Quando honro minha africanidade, quando honro minha ancestralidade africana, estou honrando a meus pais também.

Não foi porque um dos nossos pais formou família com uma pessoa branc'a que precisamos dar sequência a esse passo mal dado (e eu realmente não estou preocupada com o lado branc'o dessa história, não foi uma "escolha" e nem responsabilidade minha estar nessa história, a minha escolha é não dar sequência a ela). Quem vive dentro de uma família birracial, sabe do que estou falando, a convivência não é fácil e nem saudável. E quem disser o contrário disso, no mínimo está sendo desonesto, não estou falando de exceções.


Mas, retomando o assunto sobre a adoção de um nome africano, além de todos os olhares enviesados dos que não enxergam nenhuma necessidade ou relevância nessa decisão, ainda há o dedo do africano do continente apontado em nossa direção dizendo que não vê um africano da diáspora como alguém que possua "legitimidade" para adotar um nome africano. Mas aí, você descobre que o africano "legítimo" é cristão, evangélico, só anda com branc'o, se comporta como branc'o, critica o nacionalismo preto, é integracionista...enfim, é uma sopa de brankice, a pessoa se torna um token pra branc'o usar como passaporte anti racista, se virasse profissão, o "legítimo" ficaria milionário. Aperta aquela indignação pelo desperdício, né?


O que difere um africano do continente que se comporta como branc'o, de um africano da diáspora que se comporta como branc'o? O cep?


Mas eles acreditam que por terem nascido no continente, independente do seu comportamento embranquecido, eles sim têm a legitimidade que um preto da diáspora não tem, mesmo que o preto da diáspora esteja muito mais envolvido com o quesito africanidade, mesmo que o africano da diáspora esteja em processo de Sankofa, e busca por todos os meios necessários honrar sua ancestralidade africana... Que piada de mau gosto, né? Nascer no continente não garante consciência a ninguém! Dá pra entender que a opinião deles não têm o menor valor, quando observamos que há yurugus aplaudindo sua carteirada de africanos legítimos que não aprovam a africanidade dos não nascidos em Africa? Com esse tipo de comportamento, os tios da carteirada da legitimidade africana acham que estão honrando a quem quando ajudam a yuruguzada a excluir a identidade africana dos irmãos da diáspora?


Queria ver toda essa brankice sendo lançada em direção de Kwame Ture, Marimba Ani, Karenga, Frances Welsing, Malcolm X...


Se temos Kwame Nkruma, Marcus Garvey dizendo que mesmo tendo nascido na diáspora somos sim africanos, vamos considerar a opinião de africanos do continente que nem enxergam suas próprias branquices, por quê?!


Esse foi nosso ponta pé inicial para entrarmos nos processos do escolha de nomes africanos para nossos filhos ou para nos renormearmos.


Honremos nossa Ancestralidade, independentemente de quem seja o nosso sabotador, da diáspora ou do continente, preto de alma branc'a ou branc'o de corpo e/ou alma !!!

Agabô!

Próximo Post: O poder de um Nome

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